3ª Edição

A terceira edição do LivreZine foi escrita e impressa no dia 27 de agosto de 2024, quebrando um hiato de vários meses.

Consigo traz dois temas: os ecos da enchente, onde reflete sobre as consequências da enchente para a cidade, inclusive as mais sutis; e os Superblocos, uma nova moda do planejamento de matrizes urbanas, pioneirada em Barcelona, na Espanha, que leva a pedestrianização dos bairros a um novo patamar.

Seguem os artigos.

Ecos da Enchente: O desafio de revitalizar as ruas e reacender a vida urbana

Sem enrolação: fomos vítimas de um severo desastre climático, que no Rio Grande do Sul resultou no falecimento de 172 pessoas e desalojou 629 mil – mais de meio milhão! As estatísticas estão por tudo que é lado, e por mais que, a essa altura do jogo, já estejamos lentamente recuperando o ritmo da vida cotidiana, é impossível desviar completamente dos ecos da enchente que ainda assolam nossa cidade. Muito já foi falado dessa catástrofe geral, mas vamos abordar a perspectiva urbanista, àquilo que abrange a vida nas ruas e nos bairros de Porto Alegre.

A ação da correnteza encheu a rua com 30 toneladas de entulhos, exigindo um esforço de limpeza que ainda perdura e ainda perdurará possivelmente por meses. E, para construir o corredor humanitário emergencial, foi necessária a demolição da passarela pedestre da Rodoviária. A sua reconstrução também será um empreendimento considerável.

As águas também afetaram a operação das estações de trem, que até a publicação desta edição ainda estão em processo de reabilitação entre a estação Mercado e Farrapos. A previsão é que haja reabertura da estação Farrapos até o dia 20 de setembro, e até a estação Mercado até a véspera de Natal.

Quanto às ruas em si, nos bairros afetados, ainda seguem visíveis as marcas da enchente: a marca d’água segue visível em vários prédios, e as árvores e os canteiros seguem mortos, afogados de água, lama, lodo e sujeira. Essa diferença é notável para qualquer um que conhecia o estado anterior das ruas. Detalhes como estes configuram os ecos da enchente, as consequências mais sutis, e também perenes, deste cataclísmico evento. Mesmo quando as ruas forem limpas e os trens continuarem a trafegar, sempre haverá uma árvore desfolhada para nos lembrar do mês em que nosso espírito se afogou.

Pedestrianização & Superblocos: a revolução urbanista de Barcelona

Barcelona já passou por um cenário revolucionário no passado, durante a grande Guerra Civil Espanhola. Hoje, um tipo bem diferente de revolução surge em seu berço pioneiro: os superblocos.

São uma forma nova de planejar espaços urbanos, que secionam a malha urbana de tal modo que as quadras, maiores, e bordadas por prédios de densidade, abrigam adentro espaços pedestres, com bares, lojas, academias, e todo tipo de vida urbana. Como na imagem acima, onde os prédios grandes, geralmente residenciais, anelam os espaços interiores, adentráveis por vielas e repletos de vida.

Adotar uma matriz assim em uma cidade antiga como Porto Alegre pode ser um desafio, já que demolir bairros já existentes está fora de questão, mas o superbloco demonstra a viabilidade de um conceito que pode ser aplicado para a construção de novos bairros.

Afinal, nada melhor para a revitalização dos bairros após o desastre da enchente, do que morar numa quadra do lado de uma praça e uma lanchonete, num passeio sem o barulho de carros adjacentes, relaxando num banco e tomando um belo chimarrão. 🖤